
NWA 15373
Fragmento 3.08g
- País: Noroeste Africano
- Ano achado: 2022
- Classificação: Acondrito Lunar
- Massa total: 45 kg
- Queda observada: Não
NWA 15373
O meteorito NWA 15373 é um autêntico fragmento da superfície da Lua, uma relíquia extraordinária que nos conecta diretamente ao nosso satélite natural — não por meio de telescópios ou sondas, mas fisicamente, com um pedaço tangível de solo lunar em mãos. Este meteorito foi encontrado no noroeste da África, em uma região de terreno desértico que há décadas tem revelado preciosidades cósmicas. O achado consistiu em várias peças de aparência idêntica, totalizando 45 kg, sendo a maior delas com 2,6 kg, todas localizadas próximas umas das outras. As massas têm superfície irregular, escura, e não exibem crosta de fusão, evidenciando que a queda provavelmente se deu há muito tempo, com posterior intemperismo no ambiente terrestre.
Quando cortado, o NWA 15373 revela uma estrutura espetacular: uma brecha fragmentária, ou seja, uma rocha formada por pedaços quebrados e recompostos de outras rochas lunares, com clastos claros e escuros embutidos em uma matriz de regolito consolidado de cor cinza escuro. Essa aparência é típica de materiais que sofreram múltiplos episódios de impacto na superfície lunar, um ambiente constantemente bombardeado por meteoritos ao longo de bilhões de anos.
As análises microscópicas e químicas realizadas por C. Agee e A. Ross (University of New Mexico) confirmaram que se trata de uma brecha lítica lunar, composta por fragmentos de diferentes tipos de rochas lunares e minerais fundidos por choque. Entre os minerais principais, destacam-se plagioclásio anortítico (An96,5), pigeonita, augita e olivina (Fa28,3) — todos eles compatíveis com as rochas basálticas e noríticas da crosta lunar. Também estão presentes fases secundárias como ferro metálico com baixo teor de níquel, troilita, ilmenita, cromita, sílica e espinélio titânio-cromo, todos elementos típicos de impactos de alta energia ocorridos na superfície lunar.
Esses dados geoquímicos revelam não só a natureza da rocha original, mas também seu histórico de processos extremos: choques intensos causados por impactos, fusão localizada, recristalização e a recombinação dos fragmentos em uma única massa rochosa coesa. Essa história é registrada na própria textura da rocha, e torna o NWA 15373 um alvo de grande interesse para estudos sobre a evolução da crosta lunar, especialmente em regiões de alto impacto.
A raridade de meteoritos lunares é imensa: menos de 0,1% dos meteoritos conhecidos na Terra são de origem lunar, e a maior parte deles está em coleções institucionais. Por isso, exemplares como o NWA 15373 não são apenas uma oportunidade científica, mas também um privilégio colecionável. Seu valor reside não só em sua estética e composição, mas também no que ele representa — uma ponte física entre a Terra e a Lua, formada há bilhões de anos e ejetada por impactos catastróficos que lançaram fragmentos da superfície lunar ao espaço, até que, eventualmente, um desses pedaços caiu em nosso planeta.
Ter em mãos um fragmento do NWA 15373 é ter acesso direto à história geológica da Lua — não através de amostras trazidas por missões espaciais, mas pela generosidade do cosmos e pelo acaso de uma queda bem preservada. É uma oportunidade rara e impressionante para pesquisadores, museus e colecionadores exigentes que buscam não apenas uma peça valiosa, mas um testemunho real de outro mundo.

Acondrito
Os acondritos são meteoritos rochosos que se distinguem por não apresentarem côndrulos, aquelas pequenas esferas milimétricas de silicato características dos condritos. A ausência de côndrulos indica que essas rochas passaram por processos geológicos mais complexos, como fusão parcial, diferenciação e cristalização de magma, o que as aproxima muito das rochas ígneas encontradas na Terra. Diferente dos sideritos, que representam o material denso e metálico do núcleo de corpos planetários, os acondritos são originários das regiões externas — como o manto e a crosta — de planetesimais e asteroides que, nos primórdios do Sistema Solar, foram suficientemente grandes para passar por processos de diferenciação. Quando esses corpos se formaram a partir da nebulosa solar, o calor gerado por impactos e decaimento de elementos radioativos derreteu seus interiores, permitindo a separação dos elementos mais pesados e leves. Os materiais metálicos migraram para o centro, enquanto os silicatos deram origem a lavas e rochas ígneas nas camadas mais externas. Os acondritos são, portanto, fragmentos dessas crostas e mantos, e fornecem uma visão única da atividade geológica em corpos extraterrestres primitivos.
Dentro da grande categoria dos acondritos, existem vários subgrupos distintos, cada um associado a diferentes corpos parentais e processos geológicos. Os acondritos primitivos, como as acapulcoitas e lodranitas, são uma transição entre condritos e rochas totalmente diferenciadas. Eles preservam características químicas do material original da nebulosa, mas passaram por aquecimento suficiente para fundir parcialmente e eliminar os côndrulos. Já as brachinitas são acondritos extremamente ricos em olivina e representam um tipo de manto primitivo. As ureilitas são outro tipo peculiar, com alto teor de carbono, grafite e até diamantes microscópicos, provavelmente formados por impacto. Entre os acondritos diferenciados mais estudados estão os do grupo HED: howarditas, eucritas e diogenitas. Eles têm origem no asteroide 4 Vesta e representam diferentes profundidades da crosta e do manto desse corpo. As eucritas são basaltos de superfície, as diogenitas vêm de camadas mais profundas e as howarditas são brechas formadas por colisões que misturaram os dois tipos. Outras classes importantes são os angritos, que têm uma mineralogia única e provavelmente se formaram em planetesimais distintos, e os aubritos, ricos em enstatita e com aparência muito clara, derivados de asteroides extremamente reduzidos.
Também fazem parte dos acondritos os meteoritos lunares e marcianos. Os meteoritos lunares são fragmentos arrancados da crosta da Lua por grandes impactos e que viajaram pelo espaço até atingir a Terra. São compostos por basalto, anortosito e outros tipos de rochas semelhantes às amostras trazidas pelas missões Apollo, e ajudam a ampliar nosso conhecimento sobre regiões não visitadas da Lua. Os meteoritos marcianos, por sua vez, são extremamente raros e valiosos. Eles compartilham com as análises feitas por sondas em Marte a mesma composição isotópica de gases aprisionados, especialmente o argônio, e nos fornecem informações preciosas sobre o vulcanismo, a presença de água e as condições atmosféricas do planeta vermelho em diferentes épocas. Essas amostras nos contam que Marte foi geologicamente ativo por bilhões de anos. Entre os marcianos há três grupos principais: as shergottitas, basaltos ricos em piroxeno; as nakhlitas, formadas por clinopiroxeno e com evidência de interação com água; e as chassignitas, compostas predominantemente por olivina.
Os acondritos, apesar de não representarem a maior parte dos meteoritos encontrados, são verdadeiros arquivos geológicos que documentam a história dos processos ígneos no Sistema Solar. Por sua semelhança com as rochas terrestres, eles também funcionam como pontes para compreendermos como nosso próprio planeta evoluiu desde seus primeiros estágios. Cada acondrito é uma peça-chave em um quebra-cabeça cósmico que revela como pequenos corpos primordiais deram origem a mundos inteiros — e como esses mundos foram moldados por calor, tempo e colisões. Para cientistas e colecionadores, são relíquias de um passado distante e silencioso, guardando em seus minerais as pistas da origem e evolução dos planetas.