Bendegó

Fragmento 0.86g

  • País: Brasil
  • Classificação: Siderito Octaedrito Grosseiro IC
  • Massa total: 5360 kg
  • Queda observada: Não

SHALE 

Bendegó

O meteorito de Bendegó, o maior meteorito brasileiro, pesando 5360 kg, constituído de ferro e níquel, esta exposto no Museu Nacional desde 1888 e tem uma réplica, em madeira, no Palais de la Decouverte ( Palácio da Descoberta), um museu de ciência, no coração de Paris.


O Bendegó foi encontrado em 1784, próximo a cidade de Monte Santo, no sertão da Bahia, pelo menino Bernadino da Motta Botelho, quando tomava conta de algumas cabeças de gado. Ate hoje e não se sabe a data que ele caiu. Somente em 1887 uma expedição, chefiada por Jose Carlos de Carvalho, tenente da Marinha, na epoca, foi ate o local e trouxe para o Rio de Janeiro, a pedido de D. Pedro II e de alguns membros da Academia de Ciências de Paris. Ele esta no Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, desde 1888. O trabalho de remoção foi muito difícil, e está descrito no relatório da expedição. Ja em 1886, Orvilhe Derby, do Museu Nacional, alertava para o problema de se recolher o meteorito de Bendegó, pois as enxurradas poderiam encobri-lo.

Em 1785 tinha sido feito uma primeira tentativa frustada, a pedido do governador geral da Bahia, pensando que ele era composto de ouro e prata. A pedra, com mais de cinco toneladas, acabou despencando da carreta, que a levava, puxada por 12 juntas de boi, caindo as margens do riacho Bendegó, ha 180 metros do lugar original. Ao descer uma colina, o carretão, sem freios, acabou ganhando muita velocidade. Dai, a rocha ficou mais de 102 anos esperando nova remoção.

Com o prolongamento da Estrada de Ferro de São Francisco, a 100km de onde estava o Bendegó, é que foi possível sua remoção. O novo carretão foi feito, com rodas de ferro e de madeira. O meteorito acabou caindo seis vezes do carretão, que teve seu eixo partido quatro vezes. Foram 108 km , vencidos com muito sacrifício. Daí ele seguiu de trem ate o porto e depois de navio para o Rio de janeiro.

Quando o meteorito de Bendegó chegou ao Rio de Janeiro, foi feito um corte, para poder se estudar o seu interior, e essa parte, de 60kg, foi repartida e enviada para 14 museus no mundo. Assim, podemos encontrar em Paris, Londres, Nova York, Amsterdã entre outros, pedaços do Bendegó.

Na mesma época foi feita uma copia em madeira do meteorito, no Arsenal de Marinha no Rio, sendo enviada para Paris, quando se comemoraram os cem anos da Queda da Bastilha, a Revolução Francesas, e foi inaugurado a Torre Eiffel. A razão para essa replica, se apresentar ali, foi que, na época, o meteorito de Bendegó, era o maior meteorito exposto em um museu, no mundo. Só dez anos depois disso, e que chegaria ao Museu de Historia Natural de Nova York, o meteorito Cape York, de 36 toneladas encontrado na Groelândia, em 1888.

O maior meteorito do mundo está na Namíbia, na África, Hoba West, pesando 60 toneladas. Não pode ser removido para um museu. Hoje o Bendegó esta em decimo quinto em tamanho.

Por: Marcomede Rangel, artigo publicado na Folha da Manha. Campos dos Goytacazes(RJ).
Domingo, 02 de abril de 1995. P.12, 

 

Fragmento de óxido de Bendegó
Fragmento de óxido de ferro encontrado no local do achado do meteorito Bendegó, provavelmente formado pelo intemperismo agindo sob a face inferior desse corpo espacial, durante cerca dos 10 séculos decorridos desde sua queda e seu achado em 1784. Análises químicas desses fragmentos de óxido de ferro sugerem origem meteorítica, haja vista conter 3,29% de Níquel e 0,28% de Cobalto, além de Ferro combinado com o Oxigênio. Vide estudo completo sobre esse meteorito no site http://www.bendego.com.br.

 Os fragmentos oxidados foram coletados por mim no local do achado.

Siderito

Assim como os acondritos, os sideritos são provenientes de corpos parentais cuja matéria primordial sofreu diferenciação. Este material, originário da nebulosa que formou o sistema solar e presente nos meteoritos condritos, sofreu a ação gravitacional ao longo de bilhões de anos dando origem a todos os corpos que conhecemos hoje no sistema solar como o sol, planetas, asteróides, etc. Os sideritos são meteoritos provenientes do núcleo desses corpos parentais onde o material mais pesado se concentrou como o Ferro e Níquel. Apesar de haver um grande número de meteoritos ferrosos já catalogados, a grande maioria não teve a sua queda observada. Somente uma pequena parcela das quedas observadas corresponde a meteoritos sideritos, a grande maioria é representada pelos condritos. Levando-se a conclusão que os meteoritos ferrosos são relativamente mais raros que os rochosos em nosso sistema solar.

Uma vez em ambiente terrestre, os meteoritos ferrosos sofrem menos desgaste que os condritos e, desta maneira, ainda podem ser encontrados após milhares de anos de sua queda. Os condritos, por sua vez, rapidamente sofrem a ação da atmosfera e rapidamente passam a ser confundidos com rochas terrestres e sua descoberta se torna cada vez mais difícil. Desta maneira, temos registros que achados de meteoritos ferrosos de milhares de anos e vários relacionados a grandes crateras como Canyon Diablo no Arizona com cerca de 1200 metros diâmetro e 50.000 anos. Encontramos inúmeros outros exemplos de grandes achados com várias toneladas como o Campo Del Cielo na Argentina ou Gibeon na Namíbia. Devido também a sua alta resistência, os meteoritos ferrosos estão entre os maiores já conhecido, pois são mais resistentes a reentrada na atmosfera terrestre. O maior foi é o Hoba West, localizado na Namíbia com 6 toneladas. O maior meteorito encontrado no Brasil é o Bendengó com 5.3 toneladas e se encontra hoje no Museu Nacional, RJ.
Outro fator que ajuda no trabalho de busca dos meteoritos ferrosos é sua alta atratividade a imãs e ótima resposta a detectores de metais. Detectores de metais são extensamente utilizados em trabalhos de busca de meteoritos e não apresentam uma boa resposta em meteoritos rochosos.
Os meteoritos ferrosos são constituídos basicamente de uma liga ferro-níquel e uma pequena quantidade de outros elementos como germânio, gálio, ósmio e irídio que, por serem elementos pesados, se concentraram na região do núcleo do corpo parental.
Há duas metodologias de classificação para os meteoritos ferrosos, a mais antiga e tradicional é através do estudo da estrutura e proporção do metal níquel na liga ferro-níquel. Para tanto, bastava realizar o polimento de uma porção do material, realizar o tratamento com ácido nítrico e verificar que tipo de estrutura ficaria evidente. Com base nessa estrutura o meteorito recebia a sua devida classificação como Hexaedrito, Octaedrito ou Ataxito. Mais recentemente outro método baseado no estudo químico ou quantitativo de elementos como irídio e gálio em igual proporção de níquel passou a ser empregado. Desta classificação surgiram as seguintes classificações num total de 14 grupos diferentes: IAB, IC, IIAB, IIC, IID, IIE, IIF, IIG, IIIAB, IIICD, IIIE, IIIF, IVA, IVB. Além desses grupos uma pequena parcela ainda não foi agrupada recebendo esta mesma denominação.
Uma interessante relação entre esses dois tipos de classificações também foi observada e relacionada na seguinte tabela:
Classe estrutural
Símbolo
Camacita [mm]
Níquel
[%]
Grupo químico relacionado
Hexaedritos
H
> 50
4.5 – 6.5
IIAB, IIG
 Octaedrito Muito Grosseiro
Ogg
3.3 – 50
6.5 – 7.2
IIAB, IIG
Octaedrito Grosseiro
Og
1.3 – 3.3
6.5 – 8.5
IAB, IC, IIE, IIIAB, IIIE
Octaedrito Médio
Om
0.5 – 1.3
7.4 – 10
IAB, IID, IIE, IIIAB, IIIF
Octaedrito Fino
Of
0.2 – 0.5
7.8 – 13
IID, IIICD, IIIF, IVA
Octaedrito Muito Fino
Off
< 0.2
7.8 – 13
IIC, IIICD
Octaedrito Plessítico
Opl
< 0.2
9.2 – 18
IIC, IIF
Ataxito
D
-
> 16
IIF, IVB

 

Antes de descrever cada tipo estrutura, vale alguns comentários em relação à principal liga ferro-níquel, constituinte deste tipo de meteorito. Os dois principais tipos desta liga encontrados em meteoritos ferrosos são a kamacita e tenita. A formação de uma determinada liga de ferro-níquel no núcleo do corpo parental vai depender da proporção de níquel presente na liga ferro-níquel, da temperatura e velocidade de resfriamento. Se a proporção de níquel na liga ferro-níquel for baixa, entre 4.5 e 6.5 %, a liga resultante será a kamacita. Se a proporção de níquel for alta como 30% ou mais em relação ao ferro, teremos somente a formação da tenita. Como a proporção de níquel num meteorito ferroso está situada entre 6 a 13%, encontramos as ligas formadas somente de kamacita, somente de tenita e uma mistura das duas ligas.
Octaedritos (O): Tipo mais comum de siderito exibindo a famosa figura de Widmanstätten quando polido e tratado com ácido nítrico. É composto por uma mistura de kamacita e tenita interligados. A interligação espacial entre a kamacita e tenita se dá na forma de um octaedro, dando o nome de octaedrito a esse grupo. O espaço entre as placas de kamacita e tenita são preenchidos por uma fina mistura granular de kamacita e tenita chamada Plessita (preenchimento em Grego). Os Octaedritos são novamente classificados de acordo com a espessura da camada de kamacita na figura de Widmanstätten.
Hexaedritos (H): Tipo formado essencialmente por kamacita. O nome hexaedrito se fere a rede cristalina onde esta liga é formada. A rede cristalina tem formato cúbico com seis lados iguais e com ângulos retos entre os mesmo formando um hexaedro. Os hexaedritos não exibem o padrão de Widmanstätten como a maioria dos outros sideritos e sim pequenas linhas finas denominadas “Linhas de Neumman”, em homenagem ao seu descobridor Franz Ernst Neumann e identificou essas linhas em 1848. Estas “Linhas de Neumman” são indicativas da deformação por choque no corpo parental. O grupo químico relacionado ao hexaedrito é o IIAB.
Ataxitos (D): Raro tipo de siderito que não apresenta nenhuma estrutura óbvia quando tratados com ácido nítrico. O termo ataxito vem do Grego “sem estrutura”. É formado essencialmente com a liga rica em níquel tenita. É o tipo de siderito mais raro e nenhuma das quedas observadas até hoje de sideritos é do tipo Ataxito.